Já pensaram que uma vacina contra uma doença respiratória poderia ser bem mais eficiente se fosse administrada diretamente através do nariz? Poderia inclusive coibir a própria infecção, por já ter preparado uma resposta imune, mais rápida e bem localizada para fazer frente ao patógeno no momento da infecção. O exemplo das vacinas contra a Covid-19 ilustra bem a situação. Por serem vacinas intramusculares, são capazes de induzir uma excelente resposta imune nos indivíduos vacinados, provocando, de modo geral, sintomas mais leves da doença, mas não são capazes de impedir a infecção pelo vírus. Formular uma vacina nasal eficiente é um desafio que exige muita inovação. Uma excelente matéria publicada no The Scientist (https://www.the-scientist.com/clearing-the-way-for-nasal-vaccines-72445) sob o titulo – Clearing the way for nasal vacines – ressalta a importância de desenvolver adjuvantes (materiais nos quais a vacina é misturada) adequados, capazes de ultrapassar a barreira de células protetoras (epitélio nasal ciliado) e o muco, e capazes também de permanecer por tempo suficiente para a indução de uma resposta imune composta de linfócitos T e B de memória e a produção de IgA na mucosa nasal. Cada grupo tem a sua fórmula testada em modelo animal. Pamela Wong da Un. de Michigan e seu time desenvolvem nanoemulsões especiais. Já o time de Ziv Shulman do Weizmann Institute of Science estuda quais as áreas no nariz que albergam essas preciosas células de memória e por quanto tempo elas persistem. Já o time de pesquisadores do iii, encabeçado por Jorge Kalil, desenvolveu um spray nasal como veículo de sua fórmula vacinal contra a Covid-19, que apresenta importantes qualidades de adesividade (aumento do tempo de contato) e penetração (indução de uma resposta imune duradoura) e é capaz de coibir a multiplicação dos vírus e induzir proteção das vias aéreas superiores e dos pulmões, quando a vacina é testada em modelo animal. Em outras palavras, essa vacina mostrou-se capaz de bloquear a transmissão do vírus da Covid-19 entre os animais! Próximas etapas? Estudos pré-clínicos de segurança e depois ensaios em humanos!